Da Europa em guerra,
conta-se que uma família foi forçada a sair de sua casa quando tropas
inimigas invadiram a localidade onde viviam. Para fugir aos horrores da
guerra, perceberam que sua única chance seria atravessar as montanhas
que circundavam a cidade.
Se conseguissem êxito na escalada, alcançariam o país
vizinho e estariam a salvo. A família compunha-se de umas dez pessoas,
de diversas idades. Reuniram-se e planejaram os detalhes: a saída de
casa, por onde tentariam a difícil travessia. O problema era o avô.
Com muitos anos aos ombros, ele não estava muito bem. A viagem seria dura.
- "Deixem-me", falou ele. "Serei um empecilho para o
êxito de vocês. Somente atrapalharei. Afinal, os soldados não irão se
importar com um homem velho como eu."
Entretanto, os filhos insistiram para que ele fosse. Chegaram a afirmar que se ele não fosse, eles também ali permaneceriam.
Vencido pelas argumentações, o idoso cedeu. A família
partiu em direção à cadeia de montanhas. A caminhada era feita em
silêncio.
Todo esforço desnecessário deveria ser poupado. Como
entre eles havia uma menina de apenas um ano, combinaram que, a fim de
que ninguém ficasse exausto, ela seria carregada por todos os
componentes da família, em sistema de revezamento.
Depois de várias horas de subida difícil, o avô se sentou em uma rocha. Deixou pender a cabeça e quase em desespero, suplicou:
- "Deixem-me para trás. Não vou conseguir. Continuem sozinhos."
- "De forma alguma o deixaremos. Você tem de conseguir. Vai conseguir", falou com entusiasmo o filho.
- "Não", insistiu o avô, "deixem-me aqui."
O filho não se deu por vencido. Aproximou-se do pai e energicamente lhe disse:
- "Vamos, pai. Precisamos do senhor. É a sua vez de carregar o bebê."
O homem levantou o rosto. Viu as fisionomias cansadas
de todos. Olhou para o bebê enrolado em um cobertor, no colo do seu
neto de treze anos. O garoto era tão magrinho e parecia estar realizando
um esforço sobre-humano para segurar o pesado fardo. O avô se levantou.
- "Claro", falou, "é a minha vez. Passem-me o bebê."
Ajeitou a menina no colo. Olhou para o seu rostinho
inocente e sentiu uma força renovada. Um enorme desejo de ver sua
família a salvo, numa terra neutra, em que a guerra seria somente uma
memória distante tomou conta dele.
- "Vamos", disse, com determinação. "Já estou bem. Só
precisava descansar um pouco. Vamos andando." O grupo prosseguiu, com o
avô carregando a netinha. Naquela noite, a família conseguiu cruzar a
fronteira a salvo. Todos os que iniciaram o longo percurso pelas
montanhas conseguiram terminá-lo. Inclusive o avô.
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