sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

A meia-verdade

 Relata-se o seguinte incidente envolvendo o profeta Maomé. O profeta e um dos seus companheiros entrou numa cidade para ensinar.

Logo um adepto dos seus ensinamentos aproximou-se e disse:

- "Meu senhor, não há nada exceto estupidez nesta cidade. Os habitantes são tão obstinados! Ninguém quer aprender nada. Tu não irás converter nenhum desses corações de pedra."

O profeta respondeu bondosamente:

- "Tu tens razão."

Logo depois, outro membro da comunidade abordou o profeta. Cheio de alegria, ele disse:

- "Mestre, tu estás numa cidade abençoada. O povo anseia receber o verdadeiro ensinamento, e as pessoas abrem seus corações à tua palavra."

Maomé sorriu bondosamente e novamente disse:

- "Tu tens razão."

- "Ó mestre", disse o companheiro de Maomé, "tu disseste ao primeiro homem que ele tinha razão, e ao segundo homem, que afirmou o contrário, tu disseste que ele também tinha razão. Pois preto não pode ser branco."

Maomé respondeu:

- "Cada um vê o mundo do jeito que espera que seja. Por que deveria eu refutar os dois homens? Um deles vê o mal, o outro, o bem. Tu dirias que um deles vê falsamente? Não são as pessoas aqui e em toda parte boas e más ao mesmo tempo? Nenhum dos dois disse algo equivocado, disseram apenas algo incompleto."

Do livro: O Mercador e o Papagaio



quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Resiliência

A resiliência é a capacidade de se adaptar, superar desafios, resistir à pressão e se recuperar de situações adversas. Uma pessoa resiliente consegue lidar de maneira eficaz com as dificuldades, aprender com as experiências negativas e seguir em frente, mantendo um equilíbrio emocional e psicológico. Essa capacidade permite que as pessoas enfrentem as mudanças, o estresse e as adversidades da vida de maneira construtiva, buscando soluções e crescendo pessoalmente com as experiências difíceis. A resiliência é considerada uma característica importante para a saúde mental e o bem-estar emocional.

A resiliência é como uma força interna que nos permite enfrentar os desafios da vida com coragem e determinação. Em resposta aos obstáculos, ela emerge como um escudo emocional, capacitando-nos a superar as dificuldades e a encontrar oportunidades de crescimento. É a habilidade de adaptar-se a circunstâncias adversas, aprendendo com as experiências e transformando as crises em oportunidades.
Indivíduos resilientes não apenas sobrevivem diante das tempestades da vida, mas também prosperam. Eles mantêm uma mentalidade positiva, buscando soluções em vez de se deixar consumir pela negatividade. A resiliência não nega a existência do sofrimento, mas permite que enfrentemos as atribulações com uma perspectiva mais ampla e esperançosa.
Ao desenvolver a resiliência, cultivamos a capacidade de nos reinventarmos, fortalecendo nossa resistência emocional. É um processo contínuo de autodescoberta e autotransformação, marcado por uma abordagem otimista diante dos obstáculos. Assim, a resiliência não apenas nos ajuda a superar as intempéries, mas também a emergir delas mais fortes e mais sábias, prontos para enfrentar os desafios que o futuro possa trazer.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

PARÁBOLA DA VERDADE E DA MENTIRA




 Certo dia, a mentira e a verdade se encontraram.

A mentira disse para a verdade:

– Bom dia, dona verdade!

E a verdade foi conferir se realmente era um bom dia.

Olhou para o alto, não viu nuvens de chuva, vários pássaros cantavam e vendo que realmente era um bom dia, respondeu para a mentira:

– Bom dia, dona mentira!

– Está muito calor hoje, disse a mentira.

E a verdade, vendo que a mentira falava a verdade, relaxou.

A mentira então convidou a verdade para se banhar no rio.

Despiu-se de suas vestes, pulou na água e disse:

-Venha dona verdade, a água está uma delícia.

E assim que a verdade sem duvidar da mentira tirou suas vestes e mergulhou, a mentira saiu da água e vestiu-se com as roupas da verdade e foi embora.

A verdade por sua vez recusou-se a vestir-se com as vestes da mentira e por não ter do que se envergonhar, saiu nua a caminhar na rua.

E aos olhos de outras pessoas era mais fácil aceitar a mentira vestida de verdade, do que a verdade nua e crua.


quarta-feira, 27 de julho de 2022

 Apenas confie em alguém que consiga ver estas três coisas em você: 

A dor por trás do seu sorriso; 

O amor por trás da sua raiva; 

Razão por trás do seu silêncio. 

segunda-feira, 30 de maio de 2022

LAMENTO DE UM RIO...

 


LAMENTO DE UM RIO...

Me perdoem por toda esta "bagunça"... Eu só queria passar.
Eu não fui feito pra Destruir... Eu só queria passar.

Já fui Esperança para os Navegantes...
Rede cheia para Pescadores...
Refresco para os banhistas em dias de intenso calor.
Hoje sou sinônimo de Medo e Dor...

Mas, eu só queria passar...

Me perdoem por suas casas
Por seus móveis e imóveis
Por seus animais
Por suas plantações... Eu só queria passar.

Não sou seu inimigo
Não sou um vilão
Não nasci pra destruição...
Eu só queria passar.

Era o meu curso natural
Só estava seguindo meu destino
Mas, me violentaram,
Sufocaram minhas nascentes
Desmataram meu leito... Quando eu só queria passar.

Encontrei tanta coisa estranha pelo caminho... Que me fizeram Transbordar...
Muros
Casas
Entulhos
Garrafas
Lixo
Pontes
Pedras
Paus...
Tentei desviar ... Porque eu só queria passar.

Me perdoem por inundar sua história,
Me perdoem por manchar esta história...
Eu só estava passando...

Seguindo o meu trajeto
Cumprindo o meu destino:
Passar..



Scheilla Lobato

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

FINAL DE ANO

Primeiramente, somos uma espécie altamente adepta a simbologias. A data de nascimento de um importante personagem histórico ou a virada do ano nada mais são que símbolos. Existem fortes imprecisões na determinação da data do nascimento de Cristo. Um ano, nada mais é que o período (com 4 horas de imprecisão) que a Terra leva para rodear o sol. Além disso, não existe nada astronomicamente memorável no momento estabelecido como nosso ano novo. Talvez fosse melhor mudarmos de ano no solstício do dia 21 de Dezembro. É por isso que, sendo puramente racionais, não faria sentido idolatrar esses símbolos. Mesmo assim não acho incongruente da minha parte celebrar as festividades de fim de ano sendo ateu e materialista (no sentido de valorizar o concreto, não de me apegar aos bens materiais). Encaro o natal como a celebração da nossa vida em sociedade, especialmente nossa unidade social, a família. O natal para mim é a principal época de retribuir o altruísmo que me foi concedido, ou pelo menos agradecer por ele (o agradecimento funcionando como uma nota promissória de reciprocidade futura). Sem reciprocidade a socialidade perece, especialmente se não houver laços fortes de parentesco. Por isso considero o natal uma data extremamente importante. Já o réveillon para mim é a data da renovação. É quando analisamos o ano que passou para projetar o futuro. Obviamente também é simbólico, uma meia-noite como qualquer outra das 364, mas precisamos de uma data para fazer as coisas, como uma meta socialmente imposta para repensarmos a vida e celebrarmos os acertos. Assim sendo, seja você cristão, budista, macumbeiro, cubista, corintiano ou ateu, feliz ano novo e até 2014.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Bom natal ou bom dia da família!

O conceito de laicidade deve ser levado a sério. Natal ou dia da família! Sendo o dia da família, a comilança, a troca de presentes e as reuniões familiares fazem bastante sentido. O espírito universal de confraternização as visões excludentes não deveriam ter lugar. Frases como “Só Jesus salva” ou “Sem a passagem de Jesus a raça humana seguiria em progressiva decadência” servem mais para afastar as pessoas que uni-las em um mesmo ideal solidário. De acordo com as estatísticas, o nascimento, vida e mensagem de Jesus são irrelevantes ou mesmo desconhecidas para aproximadamente 70% da população mundial. Esses não se salvam? São eles produto da “progressiva decadência”? Como reagiriam os cristãos a frases como “Só Oxum salva” ou “Sem a passagem de Maomé a raça humana seguiria em progressiva decadência”? Provavelmente ficariam ofendidos. Então, para que ofender os outros? Prever e sentir o que os outros sentiriam caso fizéssemos ou disséssemos alguma coisa é um mecanismo natural, base da empatia, que devemos sempre exercitar. Ateus e crentes. Que respeitasse todos os credos, diferenças e opções. Cito um decálogo compilado por Richard Dawkins com o intuito de substituir a dureza draconiana dos mandamentos bíblicos. 1- Não faça aos outros o que não quer que façam com você; 2- Em todas as coisas, faça de tudo para não provocar o mal; 3- Trate os outros seres humanos, as outras criaturas e o mundo em geral com amor, honestidade, fidelidade e respeito; 4- Não ignore o mal nem evite administrar a justiça, mas sempre esteja disposto a perdoar erros que tenham sido reconhecidos por livre e espontânea vontade e lamentados com honestidade; 5- Viva a vida com um sentimento de alegria e deslumbramento; 6- Sempre tente aprender algo de novo; 7- Ponha todas as coisas à prova; sempre compare suas ideias com os fatos, e esteja disposto a descartar mesmo a crença mais cara se ela não se adequar a eles; 8- Jamais se autocensure ou fuja da dissidência; sempre respeite o direito dos outros de discordar de você; 9- Crie opiniões independentes com base em seu próprio raciocínio e em sua experiência; não se permita ser dirigido pelos outros; 10- Questione tudo. Este decálogo parece reunir o melhor do pensamento religioso junto com a visão humanista e questionadora que a cultura da ciência proporciona. Ninguém precisa abrir mão da sua fé para adotá-lo, nem impô-lo aos demais. E dentro do mesmo espírito de respeito e tolerância, cada um de nós pode acrescentar alguma coisa que nos resulte importante. Para finalizar, a saúde da humanidade e do planeta onde ela vive depende da compreensão de sermos um único clã de sete bilhões, navegando num pálido e insignificante ponto azul num canto qualquer de um universo incompreensivelmente vasto. Temos que nos ajudar. Ninguém virá nos salvar a não ser nós mesmos. Bom natal, ou bom dia da família, tanto faz, um abraço fraterno e até 2018!