sábado, 22 de maio de 2010

Zaila estrelinha /

Zaila estrelinha

Não sei se vocês me conhecem.
Sou a Zaila e fiquei alguns meses no site do AUG para adoção.

Pretinha, velhinha, sem nenhum grande atrativo a não ser a minha doçura e a minha voz rouca. Acho que poucos notaram que eu existo.
Há um tempo, a tia Susan colocou até uma fitinha em mim pra eu tentar me destacar, tentar fazer com quem alguém me notasse, sabe?
Fiquei charmosa nas fotos. Mas continuei sendo a pretinha, velhinha, sem nenhum grande atrativo. E nunca recebi NENHUM formulário.
Passei minha vida na rua, tendo uma cria atrás da outra, comendo lixo.
Até que um dia entrei numa casa, onde moravam dois gatinhos. Era a casa da tia do Marcos, marido da tia Susan.
Ela começou a falar fininho comigo e me alimentar.
Demorei para me aproximar, mas achei o lugar bacana. E quando dei cria, levei meus bebês para lá: Barack e Michelle, pretinhos como eu.
Eles foram recolhidos pelo site e adotados.

Eu não. Ainda era muito assustada e ninguém conseguia me pegar...
E alguns meses depois veio outra gravidez e eu já estava super hiper mega boazinha e carinhosa.  Mas eu já estava velhinha e não consegui parir, um neném entalou. Me levaram para fazer cesárea, cuidaram dos meus bebês na mamadeira e sobreviveram dois, adotados pelas tias Mariana e Gisele.

Do lar temporário eu fui para o abrigo, do abrigo fui para a casa da tia Susan, que queria ficar comigo desde o começo, mas estava com a casa cheia de gatinhos e nunca tinha espaço para mim.

A vida me judiou. Sempre fui franzinha e assustada. E ganhei manchinhas nos olhos, muito expressivos, por sinal. A impressão que a tia Susan tinha é que meus olhinhos eram mofados e que eu tinha passado muito frio nessa vida.

No quintal, o que eu mais gostava era da hora do sol. Me espichava toda de barriga pra cima, que delícia.
Quando não estava no sol, ficava encolhida em algum paninho, como boa senhorinha.

Mas eu adoeci. Tia Susan notou que eu espirrava muito e que estava mais "durinha" que o normal. E me botou numa gaiolinha.
Só ali ela poderia ver se eu comia, bebia, usava a caixinha... e as semanas se passaram e minha gripe foi piorando, os remédios eram trocados e não faziam efeito. Parei de comer, de beber, de miar, de sorrir, de curtir o sol. E hoje eu parti.

Na próxima vida quero nascer gato branco, quero nascer siamesa, quero nascer amarela ou azul, porque ainda quero saber o que é ser escolhida, ser amada, ter um lar, dormir na cama debaixo do edredon. Vida de gato preto é muito triste.


Escrito por Susan às 10h46


Blog Adote um Gatinho
http://adoteumgatinho2.zip.net/arch2010-05-16_2010-05-22.html#2010_05-21_11_46_35-10813824-0

Um comentário:

Amanda Pinheiro disse...

Adorei o texto, cheguei a me emocionar, é incrível que até os animais sofrem preconceito, não apenas por ser "preto, branco ou amarelo" mas, por ser "velho ou novo" é isso mesmo, a vida não é fácil nem para ninguém, agora eu consigo compreender a expressão "dia de cão" porque até os bichinhos tem dias difíceis...